Resumo: Os cuidados com os olhos e com a boa visão devem ser iniciados já nos primeiros meses de vida. Entenda o que é o estrabismo, quais seus tipos, quando ocorre, e suas principais causas. Saiba também como é diagnosticado, quais suas consequências e tratamentos mais eficazes, além de quando deve-se procurar ajuda especializada.
Estrabismo é um distúrbio que altera o alinhamento dos olhos fazendo com que cada olho aponte para uma direção diferente, e assim comprometendo o paralelismo entre os olhos. Esse distúrbio pode aparecer em qualquer fase da vida, desde bebês pequenos até idosos, e por diferentes razões. É importante realizar uma consulta com o oftalmologista especialista em estrabismo quando:
- Percebe-se perda do alinhamento entre os olhos
- Percebe-se visão dupla, ou seja, imagens duplicadas
Lembre-se: o estrabismo ocorre em cerca de 3% das crianças, e que se o tratamento não for precoce, pode haver alguma perda de visão.
Classificações:
O estrabismo pode ser classificado em esotropia ou convergente, quando um ou os dois olhos apontam para dentro (para o nariz); exotropia ou divergente, quando um ou ambos os olhos se deslocam para fora e em hipertropia ou vertical, quando um ou os dois olhos apontam para cima ou para baixo.
É importante observar que esses desvios podem ser monoculares, quando ocorrem sempre no mesmo olho, ou alternantes, quando aparecem ora em um, ora em outro olho. Os desvios alternantes são relativamente mais funcionais que os monoculares pois a acuidade visual pode ser semelhante em ambos os olhos, já nos monoculares um olho apresenta visão normal e o outro (com desvio) pode apresentar perda progressiva da visão.
Há ainda os desvios intermitentes, quando ocorrem de vez em quando ou latentes, quando o olho fica desalinhado apenas em algumas situações. É frequente perceber o desalinhamento dos olhos principalmente em fotografias. Nos desvios latentes o alinhamento é corrigido pelo cérebro, mantendo um aparente alinhamento e permitindo a fusão das imagens que chegam ao sistema nervoso central, partindo de cada um dos olhos. Esses tipos de estrabismo podem não causar sintomas e passar despercebidos, sendo diagnosticados apenas pelo oftalmologista especialista em estrabismo.
Há ainda a classificação relativa ao ângulo do desvio. É chamado concomitante quando o ângulo de desvio é constante em todas as direções ou paralítico, caso o ângulo seja variável conforme a direção do olhar.
O estrabismo pode aparecer em qualquer fase da vida, desde bebês até idosos, mas vale ressaltar que, até completar 3 meses o bebê ainda está aprendendo a controlar o movimento dos olhos. Essa falta de controle não caracteriza disfunção ou estrabismo.
Sobre os tipos de estrabismo:
- Convergente: um olho fixa o objeto (fixador) e o outro (adelfo) desvia para dentro
- Divergente: um olho é fixador e o adelfo aponta para fora
- Vertical: a pessoa vê duas imagens de um mesmo objeto, um “em cima” do outro. É comum que essa pessoa incline a cabeça para um dos lados (torcicolo )tentando evitar a visão dupla (diplopia)
- Paralitico: é um desvio mais frequentemente adquirido. Costuma ser maior quando a pessoa olha para o lado do musculo paralisado e menor quando olha na direção contrária.
- Acomodativo ou refrativo: costuma ocorrer por volta dos dois a três anos de idade como consequência de graus altos de hipermetropia. Ao corrigir a refração (grau dos óculos), o estrabismo pode desaparecer.
- Intermitente: os olhos desalinham momentaneamente em decorrência da labilidade muscular desencadeada, por exemplo, pelo cansaço, distração, estimulação solar, aumento da temperatura corporal ou alterações emocionais
- Pseudo-estrabismo ou falso estrabismo: é a falsa impressão de desvio ocular devido a existência de uma prega de pele no canto interno dos olhos (epicanto)
- Latente: manifesta-se quando há obstrução da visão de um dos olhos.
- Congênito: quando aparece desde o nascimento ou nos primeiros meses de vida. As causas podem ser desconhecidas.
Causas do Estrabismo:
Nervos cranianos conectados ao sistema nervoso central são os responsáveis por controlar os seis músculos que comandam o movimento de cada um dos olhos. A ação equilibrada e sincronizada desses músculos garante que os olhos permaneçam alinhados.
Entretanto, alguns fatores podem comprometer o funcionamento normal de um ou mais dos integrantes desse sistema, como por exemplo:
- Dificuldade motora
- Grau elevado de hipermetropia (o que obriga a aproximação forçada dos olhos para tentar compensar a dificuldade de visão (esotropia acomodativa)
- Baixa visão em um dos olhos
- Doenças neurológicas como AVC (derrame) ou traumas cerebrais
- Condições genéticas como a síndrome de Down
- Problemas oculares como a catarata congênita
- Doenças infecciosas como a meningite ou encefalite
- Problemas na tireoide
- Diabetes
- Hereditariedade
Sintomas do estrabismo:
Os sintomas do estrabismo não são iguais em todas as idades. Quando a alteração se manifesta nos primeiros anos de vida, ainda não há referência ao principal sintoma, que é a diplopia (visão dupla). As crianças desenvolvem um mecanismo de supressão e apagam a imagem formada pelo olho que sofreu o desvio. Esse mecanismo tem uma grave consequência, que é o não desenvolvimento da região do cérebro responsável pela visão desse olho e, por isso, pode levar a perda visual irreversível. Esse problema é chamado de ambliopia e é frequente em crianças que não foram submetidas a exames de visão de rotina com oftalmologistas infantis (oftalmopediatras) ou oftalmologistas especialistas em estrabismo. Outro sintoma observado em crianças é a postura anômala, movimentação corporal descoordenada, e apertar ou cobrir um dos olhos.
O estrabismo infantil está relacionado à falta de controle muscular, e não com a força muscular.
Diferente das crianças menores, a diplopia é uma queixa frequente em crianças maiores e adultos. Pode ser acompanhada de dor de cabeça, torcicolo e uma inclinação característica da cabeça que a pessoa estrábica faz na tentativa de enxergar melhor.
Diagnóstico para estrabismo:
Quando a pessoa busca o oftalmologista, um dos testes fundamentais que é realizado é o teste do reflexo de luz na córnea. Ele avalia se o foco de luz está centralizado nas duas córneas e é essencial para diagnosticar o estrabismo. Outros exames também são necessários, como os de acuidade visual, de fundo de olho, de oclusão e movimento ocular. Já para avaliar o tamanho do desvio é realizado o covertest. Todos eles são úteis para avaliar a saúde normal dos olhos ou para a confirmação do diagnóstico de estrabismo, além de verificar se o aparente desvio não está sendo provocado por um falso estrabismo. Isso pode acontecer quando há uma alteração anatômica frequente causada pela base do nariz mais larga associada a uma prega de pele que recobre a parte branca dos olhos (esclera), dando a falsa impressão de estrabismo, quando, de fato, os olhos estão bem alinhados.
Estrabismo tem cura?
Na grande maioria dos casos adequadamente tratados, o estrabismo tem cura.
Tratamento:
O primeiro passo do tratamento é corrigir as causas que possam estar contribuindo para o aparecimento do desvio. Os resultados aparecerão mais rapidamente se o tratamento for iniciado precocemente. Portanto, procurar o oftalmologista infantil, oftalmopediatra ou especialista em estrabismo assim que perceber anormalidades pode garantir melhores resultados. Com o objetivo de corrigir os problemas visuais, são aplicadas medidas terapêuticas como a aplicação de colírios, uso de óculos, exercícios para o fortalecimento dos músculos oculares, uso de tampões para estimular o olho com deficiência e aplicação de medicação nos músculos oculares, como a toxina botulínica.
Quando o desvio se mantém mesmo após o tratamento das causas, a correção pode ser feita através da cirurgia de estrabismo. O tamanho do desvio é determinante para o médico avaliar se será necessário operar os músculos de um ou ambos os olhos. Em alguns casos, é indicada a aplicação de toxina botulínica (botox) como alternativa ao procedimento cirúrgico.
Risco cirúrgico:
Como qualquer cirurgia, a cirurgia de estrabismo tem riscos. O principal deles é o estrabismo residual, quando, após a cirurgia, o olho apresenta algum desvio.
De forma geral, as taxas de sucesso da cirurgia são altas. Oftalmologistas especialistas em cirurgia de estrabismo são os profissionais qualificados para realizar esse tipo de procedimento.
Atenção!
- Não é verdade que qualquer tipo de estrabismo desaparece com o crescimento da criança. Assim que notada qualquer alteração nos olhos, a criança deve ser levada a um oftalmologista infantil.
- O estrabismo pode ser tratado em qualquer idade, porém é importante observar que, quanto antes o tratamento for iniciado, mais rápido e melhores serão os resultados. Outro fator essencial é seguir o tratamento com rigor. Estrabismo não tratado pode ocasionar a perda visual do olho com desvio.
Dra Iara Debert atende na Clinica OIE.